“A gente sempre foi esse tipinho qualquer.
Você nunca foi diferente, mas eu sempre dei os meus pulos pra te tornar
diferente. Você é esse tipinho qualquer, que qualquer pessoa sabe que a
coisa certa é ficar longe. O problema é que eu sempre fui o tipo que
procura um cara certo, calmo e um cara que não tenha um perfume que
cheire a encrenca. Mas até o seu andar diz quão problema você é. Eu sou
afastada. Eu nunca fui do tipo que fala de amor, que vive um
romance clichê e essas coisas. Eu sempre fui do tipo “vou embora
sexta-feira”. E não me arrepender depois de ir. Eu fujo do que eu sinto
porque eu costumo sentir coisas muito maiores do que eu. Eu tive certeza
disso depois que você apareceu. Você me disse que não sabia ficar, e eu
te disse que não tinha problema. Porque sexta-feira eu iria embora,
como sempre. E na sexta, você disse que sabia como dar um
jeitinho pra ficar. Um jeitinho do seu estrago. E eu fiquei, meu Deus,
eu fiquei. Eu fiquei e deixei você dar seu jeito, sem deixar você notar
que eu também tava dando o meu. O meu jeito era certo, e o seu jeito era
errado. Você sabe, alguém precisava ser pelo menos um pouquinho
certo. Eu nunca fui, mas perto de você eu até consegui ser. E quem não
seria? Sabe qual o problema? Eu te fiz de parede, te fiz… Minha
muralha da China. Eu apostei tudo em você, logo em você. Eu sabia que
não daria certo, até porque ambos somos errados. Não no sentido literal,
somos errados um pro outro. Dois bicudos não se beijam, cara. Eu tenho
medo de ser transparente e te transformar num espelho, onde eu me veja
refletida em você. Você sabe que eu sou ruim, mas se eu começar a
ser mais você do que eu… O resultado? Um rabisco num papel amassado.
Porque você sabe, eu e você não damos certo pra uma pintura. Talvez a
gente até se encaixe numa do Picasso, só porque ninguém entende, não tem
sentido e muito menos lógica. Solução então, putz… Um quadro do Picasso
nunca teve, mas acho que seria possível. Mas meu otimismo acaba no
Picasso, porque solução pra nós dois… Putz. É impossível. Porque
você é completamente difícil, e eu não alivio.” (Via: Poetizar)