terça-feira, 9 de julho de 2013

Escrevo para me desnudar

Não escrevo para fugir de mim. Não há fuga possível na minha escrita, nas minhas mudanças geográficas, nas minhas relações, nas minhas próprias fugas. A lucidez que um texto traz à tona, por mais impermeável que eu esteja, é desconcertante. Vejo-me na grafia espelhada. Vejo-me na ilusão arrebentada, no véu em farrapos, no retrovisor dos passos.

Não escrevo frases temporárias: vão-se as fases, ficam as palavras. Não há texto descartável como uma lembrança. Não há registro dispensável como uma observação.
Não escrevo para voltar para mim. Não escrevo para me conhecer. Não escrevo para te seduzir. Não escrevo para me defender.
Então escrevo para me desnudar: como se todos os meus poros sentissem falta de ar.

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